Verde e laranja
Naquele reino, havia uma rainha doce, gentil e extremamente inteligente; embora fosse vista como cruel por muitos, mas não por seus súditos. Todos sabiam como o local crescia próspero e forte. A qualidade de vida era boa e tudo era pacífico, até mesmo as terras conquistadas mantinham uma relação consideravelmente melhor com Virídia do que se era de costume. Ah, o costume! O motivo pelo qual tantos outros reinos pensavam que a terra de mares verdes como esmeraldas era amaldiçoada.
Não era costume uma mulher governar, e isso incomodava a realeza de outras nações. O que esses líderes jamais admitiriam, era que estavam tomados pela cólera causada pela inveja. Se perguntavam como ela conseguia reger de forma tão excelente, algo inaceitável aos olhos dos mesmos. Juntos, espalharam mentiras sobre a majestade, transformando-a em bruxa para os seus. O mais forte deles, Aurastor que gorvenava Aurantiacam, estava completamente cego de orgulho. Jamais passara por sua cabeça oca e coroada que talvez um dia pudesse precisar de ajuda do “Reino das Trevas”. Até que esse dia chegou.
Afetado pela perca de grande parte de seus minérios, ele fora largado por seus maiores aliados e o reino entrou em declínio. Ao pedir ajuda dos outros foi feito de chacota, humilhado e excluído. Afinal, era bom para os outros senhores que o império das pedras de fogo caísse, significava que tinham um concorrente a menos. “Peça ajuda para a bruxa”, foi o que lhe disseram em tom de deboche. Então, uma ideia louca passou por sua cabeça: ele realmente poderia pedir ajuda de Virídia, acreditava que mulheres são tão ingênuas que, se ele desenvolvesse um pouco mais seu plano, poderia ter todo o reino para si. Pedir o apoio de lá foi a melhor decisão que conseguiu tomar, embora as coisas não fossem sair exatamente como ele queria.
Seus conselheiros acharam a ideia um completo absurdo, era como admitir que ela era melhor, todavia, ouviram o rei e mandaram cinco representantes ao litoral. Quando estes voltaram, informaram que Aurastor deveria ir pois a rainha conversaria apenas com ele. Sendo obrigado, assim o fez. Após dias, ele chegou ao seu destino.
O caminho até o castelo foi cheio de surpresas. Apesar de saber que os boatos não eram verdade, ele não imaginava que Virídia era tão magnífica. As cores predominantes eram branco e verde que se mostravam tanto na arquitetura quanto nas diversas plantas que se via, havia um grande mercado com os mais variados e frescos alimentos e comércios que prestavam todo tipo de serviço. As pessoas usavam roupas de cores claras, suas feições eram alegres e todos eram cordiais e hospitaleiros. Sua ganância e desejo aumentaram, a cada instante que passava ele queria mais e mais aquelas terras para si.
Chegando no castelo, ele e seus companheiros atravessaram um lindo jardim com fontes onde pássaros se banhavam e o reflexo da luz criava belos arco-íris. No salão, a rainha já os esperava em seu trono dourado. Aurastor os apresentou:
-Sou Aurastor, rei de Aurantiacam. Esses são meus companheiros de viagem. Vim me apresentar conforme desejou, majestade- finalizou com uma breve reverência.
-O que desejas?- sua voz saía alta o suficiente para todos ouvirem, sem embargo, era calma e serena.
-Gostaria de sua ajuda, senhora. Meu reino foi saqueado pelos covardes das montanhas, preciso de reforço militar para reconquistar o que é meu- a mulher sorriu como se fosse uma ideia boba. Apenas agora que o soberano tinha reparado na mesma. Seus olhos eram verdes como as pedras que enfeitavam sua coroa e como o tecido que fazia seu vestido, o rosto era salpicado de sardas e seu cabelo caía por seus ombros como uma cascata de cobre. Sua postura era séria, porém a mão direita levantada dando apoio a cabeça e o sorriso brincalhão da mesma apareceram após ouvir o homem.
-O senhor já parte para a guerra?- disse com o tom brincalhão, como se debochasse com gentileza- tenho pena de seus homens. Como se comunica com eles se não sabe conversar? Nem sempre a solução vem com a violência.
-Me desculpe, senhora, mas não creio que eles me devolverão o que roubaram de mim.
-E aquilo era realmente seu? Todo aquele ouro, aquela prata, até suas famosas pedras de fogo, eram realmente suas?
-Não entendo o que quer dizer- disse, já não estava gostando de onde aquilo iria chegar- sou apenas um rei preocupado com seu povo, você sabe quem eu sou. Já me apresentei- ela deu uma risadinha baixa.
-É verdade- concordou, e então desviou os olhos para o teto abobadado- mesmo que seja pacialmente verdade. Bem, ainda não me apresentei. Sou Ginevra. Agora, responda minha pergunta.
Relutante, ele respondeu:
-Não, senhora. São do meu povo.
-Muito nobre de sua parte. Você quer o tesouro do seu povo porque se importa com ele, é o que diz. E precisa de minha ajuda para isso. Eu estou disposta a lhe conceder a mesma, desde que me prometa que vai confiar em mim e meus homens.
Depois de assinar uma papelada de documentos para garantir que sua palavra era verdadeira, ele foi levado por Ginevra para uma sala com diversos livros onde os coselheiros de Virídia e eles conversariam sobre o que fazer com relação a situação de Aurastor. Optaram por tentar conversar com os mesmos e foi o que tentaram. Resultou em dois diplomatas feridos, um de viridiense e outro aurantiano. Não repetiram a dose, planejaram de forma detalhista o ataque ao Forte da Montanha.
Houve uma breve batalha, quando perceberam que logo iriam perder, os homens da montanha logo devolveram o que pegaram e se renderam. Ginevra não teria como saber, mas essa não seria a pior parte do dia.
Na volta para Virídia, Aurastor atraiu a rainha para longe e se voltou contra ela. Ela estava decepcionada, desapontada. Ele achava engraçado e falou:
-”O senhor já parte para a guerra?” Haha! Mulheres são realmente tolas, nunca deveriam ter deixado um reino inteiro sob seu controle. Agora, ele pertencerá a mim. Quanto a você, tem duas opções: se renda e eu a deixarei viver, tente lutar e eu a matarei. Direi ao povo qualquer mentira, eles são burros como você e acreditarão.
-Não sou tola por acreditar em você, sou humana. Meu povo foi gentil e amistoso ao acolher sua causa, mas sua ambição será sua ruína. Lute comigo se tiver honra, garanto que irá implorar por sua vida.
E assim travaram uma luta de espadas com muitos golpes e cortes. Ele estava em uma situação horrível, estava claro que ela o derrotaria. Todavia, ele jamais perdera para um homem e sua derrota com certeza não seria causada por uma mulher. Não desistiria enquanto ela não estivesse morta.
Ela já estava se cansado e ele percebia isso, momento propício para dar seu golpe final. Ela no entanto foi mais rápida, bateu em seu braço mandando aquela espada para longe. Ela o imobilizou rapidamente.
-Admita sua derrota, peça desculpas e eu lhe deixarei ir.
-Nem morto!- ele gritou e, com um movimento rápido, inverteu as posições. O grito no entanto atraiu atenção dos guardas viridienses que, ao ver a cena, desarmaram os aurantianos e começaram a jogar o tesouro de cima da montanha.
Aurastor ficou irado, mais cego pela fúria do que já era antes. As moedas refletidas na luz do sol poentes eram hipnotizantes e, em um impulso de loucura, ele pulou para junto do ouro. Assim, concretizou o que Ginevra dissera.
O episódio foi narrado muitas e muitas vezes posteriormente. A história do rei que fora morto por sua ganância virou lenda, sendo contada para as crianças antes de dormir. Aurantiacam se tornou parte de Virídia, que fez o reino crescer ainda mais. Ginevra continuou sendo a grande líder para seu povo, governando sempre no caminho da justiça e da sabedoria.
Texto escrito pela aluna: V.B.C.M. 9.B